terça-feira, 20 de março de 2012

Taxa básica de juros em queda ressuscita as discussões sobre uma modificação na caderneta de poupança dos brasileiros

O futuro da poupança

      

 

Com a Selic em queda e o Brasil se aproximando de um índice de juros parecido com os outros países ricos, as discussões sobre uma modificação na poupança voltam à tona. E, desta vez, mais incisivo do que em 2009, ano em que o governo chegou a ensaiar uma tributação no investimento mais popular do País.

A ata mais recente do Copom, divulgada na semana passada, bem que tentou apaziguar o debate. Em geral, o documento que registra as motivações do Copom usa de vernáculo hermético. Ou seja, fala difícil pra caramba. A ata da última reunião, porém, mostrou de forma clara que os juros devem se estabilizar em um patamar um pouco acima dos 8,75%, menor índice histórico da Selic e que motivou o Planalto a esboçar uma taxa nas contas com mais de R$ 50 mil.



A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) é outra entidade preocupada com o rendimento da poupança. Está marcado para esta terça-feira (20) o lançamento de um estudo defendendo a mudança da fórmula desse tipo de investimento (leia mais informações sobre o evento abaixo).

José Dutra Vieira Sobrinho, conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon), avalia que as questões políticas podem ter impactado a decisão do Copom de ser tão direto na sua indicação para a taxa básica de juros.

"O governo está tendo uma dificuldade enorme com sua base aliada e a resistência seria enorme no Congresso à ideia de se alterar a poupança", disse Vieria Sobrinho.

Mas a objetividade da ata não foi suficiente. Claudio Silveira, sócio-diretor da Quorum Brasil, diz estimar que os juros do Brasil vão baixar a ponto de tornar a atual poupança o melhor investimento de todos de renda fixa já no começo do ano que vem. Um pepino para a equipe econômica.

O problema é que a poupança tem um reajuste fixo. Todo o mês, esse investimento rende 0,5% mais TR (Taxa Referencial). Não há incidência de imposto na poupança, que tem uma liquidez interessante - o dinheiro pode ser sacado sem burocracia a qualquer momento, mas o rendimento só acontece no aniversário da caderneta - e segurança, já que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC ) cobre depósitos de até R$ 70 mil por CPF.

Com a Selic baixa, outros investimentos, como os de fundos DI, ficam menos interessantes. No curto prazo, os fundos de renda fixa já apanham da poupança, conforme mostra um levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac ).



Segundo Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac, com a Selic em 9% ao ano - número que deve ser atingido já na próxima reunião do Copom, a poupança ganha dos fundos em todas as situações, mesmo que o prazo de resgate da aplicação seja superior a dois anos e com a menor taxa de administração cobrada (0,5% ao ano).

Nesse cenário, os investidores podem tirar o dinheiro dos fundos, que financiam a cadeia produtiva, e migrar para a poupança, que basicamente é remetido para o crédito imobiliário."Como mexer na poupança é uma medida muito impopular, se der para fazer amanhã em vez de hoje, melhor. A batata quente fica com o sucessor", opina Rogério Bastos, sócio da FinPlan. Os brasileiros têm R$ 427 bilhões investidos em poupança, segundo relatório do Banco Central que computa depósitos realizados até o dia 12 deste mês.

Para Oliveira, da Anefac, uma das opções é atrelar o rendimento da poupança à variação da taxa básica de juros – essa é a posição que deve ser defendida pelos especialistas da FecomercioSP no evento desta terça-feira. Bastos aponta que isso faria com que os tomadores de empréstimo perdessem a segurança.

Oliveira afirma que outra saída seria tributar a poupança como é feito nos fundos de renda fixa - o Imposto de Renda incide sobre o rendimento desses fundos entre 15% a 22,5%, a depender do prazo do resgate. Isso, porém, colocaria o eleitorado em polvorosa. E 2012 é ano de eleição.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, comenta que a prioridade não deve ser o pleito político. "Claro que a sucessão do poder faz parte do jogo político, mas estamos falando do bem maior, do jogo econômico, do bem-estar do cidadão brasileiro." Uma saída apontada por Agostini é mexer na outra conta: reduzir os impostos dos outros investimentos. "Mas como fazer isso com um governo de 32 ministérios e, portanto, com a necessidade de ter dinheiro para manter a base aliada? Fica difícil", reconhece Agostini.

Uma maneira de driblar esse conflito seria mantendo a taxa de juros num patamar mais alto, mas usando o restante do arsenal para estimular a economia, conforme diz o analista Guilherme Cybrão, da Trader Brasil Escola de Investimentos. "A Selic é só uma das coisas que o governo dispõe. Existe o compulsório, IOF, desonerações pontuais, entre outros", enumera Cybrão.

Por enquanto, diante de todo esse debate, o governo faz cara de paisagem. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que tudo vai permanecer como está. Mas uma hora ou outra alguma atitude deverá ser tomada.

 

Por João Varella

 

online | Finanças | 19.MAR.12 - 17:12 | Atualizado em 19.03 - 17:56         

 

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