quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CARRY-TRADE PODE VOLTAR EM 2012 E VALORIZAR REAL

As operações do mercado de câmbio conhecidas como carry-trade, quando os investidores tomam dinheiro emprestado numa moeda de país onde as taxas de juros estão baixas para aplicar em ativos de outro país onde os juros estão bem mais elevados, devem engatar um retorno em 2012, resultando em fluxo de capital adicional para moedas como o real brasileiro e a rúpia indonésia. Essa é a aposta de analistas como Tom Levinson, do banco ING, e Camilla Sutton, do banco canadense Scotia Capital. Por trás desse movimento, está a expectativa de menor volatilidade nos mercados financeiros e maior apetite por risco.
Nos últimos anos, à exceção do período pós-crise financeira de 2008, o Brasil recebeu um grande fluxo de capital estrangeiro decorrente dessas operações de carry-trade, levando à forte valorização da moeda brasileira frente ao dólar. Isso porque, com a política do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, de juros próximos de zero e de estímulo monetário, como os chamados programas de afrouxamento quantitativo, tomar dinheiro emprestado em dólar ficou muito barato. Os investidores, então, ganhavam com a aplicação desse recurso em títulos de renda fixa e em outros ativos denominados em reais, aproveitando-se da elevada taxa básica de juros no Brasil.
"De fato, o Brasil vem cortando a taxa Selic nos últimos meses, mas a diferença em relação aos juros nos Estados Unidos ou na zona do euro ainda é muito grande, o que torna o real ainda atraente para os investidores", disse à Agência Estado Tom Levinson, estrategista de câmbio do ING em Londres. "Desde o primeiro semestre de 2011, quando agravou-se a volatilidade devido ao agravamento da crise do euro e os problemas fiscais nos Estados Unidos, caiu o volume dessas operações porque as condições de mercado acabaram comendo o ganho dos investidores."
Para ele, há uma condição importante para estimular as operações de carry-trade neste ano: que os efeitos da crise da zona do euro fiquem, ao menos, contidos à Europa, sem contaminar mais fortemente a economia mundial e, com isso, deflagrar um movimento de aversão ao risco. Nos últimos dias, com a melhora dos indicadores da economia americana e chinesa, além do alívio provocado pela queda nos juros pagos por países europeus em dificuldades nos últimos leilões de dívida pública, os investidores foram as compras de ativos de maior risco, a exemplo de ações de empresas e de commodities.
Segundo Camilla Sutton, estrategista-chefe do Scotia Bank em Toronto (Canadá), à medida que a volatilidade nos mercados globais vem caindo para os níveis observados no Verão do Hemisfério Norte (Julho a Setembro) e a liquidez permanece elevada, "está havendo um interesse renovado dos investidores por operações carry-trade". Ela explica que para os investidores ganharem dinheiro com essas operações é preciso a combinação de baixa volatilidade, alta liquidez e um bom diferencial de taxa de juros entre algumas moedas.
Levinson, do ING, e Camilla, do Scotia Bank, acreditam que no retorno dessas operações em 2012 o dólar americano poderá deixar de servir como moeda base para os financiamentos para dar lugar ao euro.
Historicamente, as operações de carry-trade utilizavam o iene japonês como moeda onde os investidores tomavam recursos emprestados a um custo mais baixo. Com a crise de 2008 e a política de juros zero do Fed americano, esse papel coube ao dólar. Desde o agravamento da crise da dívida soberana na zona do euro, o dólar vem se fortalecendo e a moeda europeia vem perdendo valor. Levinson estima que o euro poderá cair até US$ 1,20. Há pouco, a moeda comum era negociava a US$ 1,2839.
"Como o volume negociado em euros vem caindo, a taxa de juros na zona do euro está baixa e pode cair mais e os fundamentos para a cotação do euro apontam para mais desvalorização, parece haver um crescente apetite dos investidores em utilizar o euro como moeda base para financiar as aplicações em outras moedas", disse Camilla. Entre as moedas beneficiadas com um fluxo maior de operações de carry-trade, ela aponta o real e o peso do México.
Para Levinson, as moedas que vão atrair investidores de carry-trade serão o real, a lira da Turquia e a rúpia da Indonésia. "A retomada das operações carry-trade poderá elevar o fluxo de capital para o real e essas outras moedas", afirmou. Por outro lado, Levinson lembra que na Europa os investidores estão aceitando comprar papéis de países, como a Alemanha, com juros negativos. E com a recente desvalorização do euro em relação ao dólar, a moeda europeia fica ainda mais atraente para financiar as aplicações em ativos de moedas onde os juros estão mais elevados.
(Agência Estado - Broadcast - Fábio Alves)

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